Chega um momento da vida que quebramos todos os espelhos ao redor de nós mesmos.
Me vejo através de ti, naquele reflexo meu, no espelho que seguras tão firmemente. Um eco que constrói uma referência ilusória de mim para eu mesmo.
E quando essas referências se quebram, não conseguimos mais nos enxergar, nos ouvir.
E nessa escuridão, surda e cega, me resta apenas: sentir.
O tatear da alma.
As emoções elas falam a língua do coração e somente. Perguntei à elas naquele dia, por meio da razão.
- SHALLOMTARAGADAIÊ — foi a resposta: chorei.
Foi ensurdecedor, e de tanto, acabei como se nunca tivesse começado. Aqueles cacos que pareciam quebra-sem-cabeças, eu toquei. Toquei cada um que caiu perto de mim e tentei encaixar uns nos outros para conseguir verde.
Mas foi o vermelho que vi de sangue. Por que sempre nos sacrificamos tanto? Tanto para tentar compreender e SHALLOMTAGARADAIÊ de novo, e de novo e aquele formato que senti, daquele quebra-sem-cabeça formado de cacos, não se parecia com nada e nada dizia.
Então os arrebentei e os destrocei com o resto que considerava como “eu”.
As veias queimaram junto às entranhas e o coração explodiu as dores que pesavam tanto, doeu como o inferno, e algumas eternidades depois, cessou.
Então nada e tudo aconteceu e assim permanecemos: porque já não era um e sim dois, três, quatro, cinco milhões de eus.
Aquele dia lembro de ter chovido na gente, choveu forte e escutamos finalmente o som do trovão.
O calor da terra molhada e o cheiro de orvalho e então percebemos que estávamos semeando a nós mesmos: choramos.
O silêncio passou a ser a música que acarinhava um novo coração: OM NAMAH SHIVAYA.
E pela primeira vez, eu me vi.