Isabel Guariso Panzoldo
2 min readJun 11, 2020

Dona Lurdes e a Dona Nena moram na casa amarela no final da Rua Girassol.

São duas senhorinhas esquisitas que — na minha opinião — são meio lelé da cuca.

A Dona Lurdes acorda cedo e vai na calçada do Roberval roubar abacate que nasce no abacateiro gigante que tem lá. Roberval nunca reclamou — é outro véio doido.

Acha que a Dona Lurdes é uma bruxa que usa abacate pra fazer “bruxisse” pro cabelo dela, que é bem curtinho e verde. A Dona Lurdes sempre achou isso engraçado e faz uma dancinha toda vez que colhe um abacate — Seu Roberval, da janela, acha lindo e bate palmas no final.

A Dona Nena acorda um pouco mais tarde, dá pra ouvir lá da minha casa a hora que ela acorda porque ela coloca umas músicas meio esquisitas e fica gritando, quer dizer, cantando junto. A casa delas parece uma chaminé de tanto incenso que a Dona Nena acende.

A Dona Nena é meio temperamental, minha vó tem um pouco de medo dela, mas eu acho ela engraçada: uma hora tá gritando com alguém, mas logo depois já da pra ouvir ela gargalhando lá no quintal delas.

Elas vivem gargalhando, sabe lá de que tanto elas riem naquela casa. Minha vó fala que elas fumam um tal de “proibido”, eu acho que elas só são felizes mesmo.

A Dona Lurdes e a Dona Nena gostam muito de frutas e de arte, gostam tanto que montaram uma quitanda & ateliê. Pois é, de manhã vendem frutas e lá para as quatro da tarde — depois da soneca religiosa da Dona Nena — elas dão aulas de pintura.

Eu acho engraçado que a Dona Lurdes sobe aquela ladeira, da Rua Girassol, pedalando naquela bicicleta de cestinha dela, e chega rapidinho na quitanda & ateliê, enquanto a Dona Nena sempre demora uns vinte minutos a mais pra chegar porque vai a pé, e vai reclamando sozinha o caminho inteiro.

A volta as duas descem a pé juntas, é um converseiro até. Conversam sobre tudo, as vezes eu não consigo acompanhar, são uns papos meio esquisitos, e tem hora que as duas desembestam a correr, ou a dançar no meio da rua, elas são meio lelé da cuca.

Eu gosto da Dona Lurdes e da Dona Nena. Esses dias minha vó me disse que elas foram viajar lá pros cafundó do judas, não entendi direito, pedi pra vovó me explicar mas ela não quis. Mas eu vou perguntar pra elas quando elas voltarem, daqui do meu balanço dá pra ver a hora que elas passarem fazendo “bruxisses”.

Isabel Guariso Panzoldo
Isabel Guariso Panzoldo

Written by Isabel Guariso Panzoldo

Às vezes eu fico imaginando como esses porcos foram parar aí mas pra mim ainda é um mistério

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