Essa é a história da Menina e o Mundo.
Desde pequena a Menina se flagrava inventando diferentes cenários onde poderia ser o que quisesse.
Queria ser tudo! Tudo que fosse encantador e poderoso ao mesmo tempo, às vezes era a Bruxa e a Fada, o Sol e a Chuva...
Mas nem sempre era compreendida, ou pior: era desencorajada. Não entendiam aquele universo que estava latente dentro dela.
Eram tantos rótulos que tentavam cercá-la que a Menina resolveu tentar ser menos.
Então às vezes era Bruxa, e só. Guardava a fada bem guardada, mas também quando era Fada a Bruxa saía voando.
Dias chuvosos intermináveis, um aguaceiro que só pela Deusa.
E quando o Sol saía? Era um festival de pimentões ambulantes, não tinha quem aguentasse.
E nessa confusão de ser e não ser, a Menina foi se enrolando, enrolando, enrolando e não sabia a hora de ser o quê. Ficava se questionando o tempo inteiro:
- Menina que tá aí dentro de mim: me responde!
Só que dessa vez quem respondeu foi o Mundo:
- Ô Menina!
- Quem tá aí?
- É o Mundo.
- O Mundo, Mundo?
- O Mundo todo!
- Nossa! E como faz caber tudo aí? Não falta caixa? Aqui tentei colocar tudo lá naqueles cantos que a gente nunca quer olhar, mas vou te falar que tá uma montuera só. É caixote pra lá, caixote pra cá! Pessoal da logística tá ficando doido.
- E se eu te disser que tá te faltando espaço? Mas não aí dentro: aí fora! Que tanto você se limita nesse quadradinho?
E foi assim que a Menina passou a seguir o Mundo onde fosse.
Porque onde o Mundo tava era grande o suficiente pra Menina ser tudo que era.
Era tanta coisa ao mesmo tempo! A Menina nunca tinha sido tão feliz só por poder ser aquilo que era.
Eram tantas cores, sabores juntos e misturados!
Era um verdadeiro festival. E tava todo mundo convidado, não tinha essa bobagem de etiqueta e limitações.
Os caixotes se abriram, a Bruxa e a Fada cirandavam juntas por aí enquanto o Sol e a Chuva brincavam de pega-pega.
E saiam pegando tudo que tava meio alí, e de lá saia mais e mais coisa da Menina: era pássaro voando, lobo uivando, prato quebrando!
E foi quebrando todos os rótulos e “só” sobrou a Menina e o Mundo.
Só que o Mundo era meio viajante, curtia mesmo era ficar cada hora num lugar.
E a Menina? A Menina foi, e continua indo até hoje.
Me perguntam se eu não sinto saudade dela: como não sentiria?
É que as vezes eu olho pro céu e vejo um daqueles arco íris tão bonitos que sei que só tão lá por causa dela, e aí eu entendo o Mundo de ter feito a Menina voar.
Homenagem à Menina que me colocou no Mundo
Isabel Guariso Panzoldo
2018