Isabel Guariso Panzoldo
2 min readJun 2, 2020

Essa é a história da Menina e o Mundo.

Desde pequena a Menina se flagrava inventando diferentes cenários onde poderia ser o que quisesse.

Queria ser tudo! Tudo que fosse encantador e poderoso ao mesmo tempo, às vezes era a Bruxa e a Fada, o Sol e a Chuva...

Mas nem sempre era compreendida, ou pior: era desencorajada. Não entendiam aquele universo que estava latente dentro dela.
Eram tantos rótulos que tentavam cercá-la que a Menina resolveu tentar ser menos.

Então às vezes era Bruxa, e só. Guardava a fada bem guardada, mas também quando era Fada a Bruxa saía voando.
Dias chuvosos intermináveis, um aguaceiro que só pela Deusa.
E quando o Sol saía? Era um festival de pimentões ambulantes, não tinha quem aguentasse.

E nessa confusão de ser e não ser, a Menina foi se enrolando, enrolando, enrolando e não sabia a hora de ser o quê. Ficava se questionando o tempo inteiro:

- Menina que tá aí dentro de mim: me responde!

Só que dessa vez quem respondeu foi o Mundo:

- Ô Menina!
- Quem tá aí?
- É o Mundo.
- O Mundo, Mundo?
- O Mundo todo!
- Nossa! E como faz caber tudo aí? Não falta caixa? Aqui tentei colocar tudo lá naqueles cantos que a gente nunca quer olhar, mas vou te falar que tá uma montuera só. É caixote pra lá, caixote pra cá! Pessoal da logística tá ficando doido.
- E se eu te disser que tá te faltando espaço? Mas não aí dentro: aí fora! Que tanto você se limita nesse quadradinho?

E foi assim que a Menina passou a seguir o Mundo onde fosse.

Porque onde o Mundo tava era grande o suficiente pra Menina ser tudo que era.

Era tanta coisa ao mesmo tempo! A Menina nunca tinha sido tão feliz só por poder ser aquilo que era.

Eram tantas cores, sabores juntos e misturados!
Era um verdadeiro festival. E tava todo mundo convidado, não tinha essa bobagem de etiqueta e limitações.

Os caixotes se abriram, a Bruxa e a Fada cirandavam juntas por aí enquanto o Sol e a Chuva brincavam de pega-pega.

E saiam pegando tudo que tava meio alí, e de lá saia mais e mais coisa da Menina: era pássaro voando, lobo uivando, prato quebrando!

E foi quebrando todos os rótulos e “só” sobrou a Menina e o Mundo.

Só que o Mundo era meio viajante, curtia mesmo era ficar cada hora num lugar.

E a Menina? A Menina foi, e continua indo até hoje.

Me perguntam se eu não sinto saudade dela: como não sentiria?

É que as vezes eu olho pro céu e vejo um daqueles arco íris tão bonitos que sei que só tão lá por causa dela, e aí eu entendo o Mundo de ter feito a Menina voar.

Homenagem à Menina que me colocou no Mundo

Isabel Guariso Panzoldo

2018

Isabel Guariso Panzoldo
Isabel Guariso Panzoldo

Written by Isabel Guariso Panzoldo

Às vezes eu fico imaginando como esses porcos foram parar aí mas pra mim ainda é um mistério

No responses yet